Desapego...
Segundo o dicionário, desapegar é “1) tornar(-se) desafeiçoado ou menos afeiçoado a; 2) fazer perder ou perder o envolvimento, a dependência ou o compromisso com; afastar(-se), libertar(-se).”.
Desapegar, para mim, tem sido um aprendizado de soltar, deixar ir, abrir mão, libertar-se do que não serve mais, de quem não serve mais na minha vida.
Eu que sempre tive uma ótima memória, lembro-me de detalhes dessa e de outras vidas – que nem eu, às vezes, acredito que lembro –, tenho percebido que essas lembranças, por vezes, fazem mais que morada em meu ser, tomam lugar e ocupam um espaço de algo que não existe mais, ou talvez tenha existido apenas no meu modo de ver a vida.
Desapegar de pessoas, coisas, lembranças, objetos, do passado, das dores, das glórias, dos rancores e dos ressentimentos que já não cabem mais em meu ser, dos machucados e cicatrizes que por muito tempo carreguei como insígnias de honra de quem eu era; não sou mais.
Desapegar do antigo, do saturado, do empoeirado para permitir a chegada do novo.
Às vezes, esse desapegar dói, porque vem acompanhado de verdades que véus da ilusão nos impediam de ver com clareza as situações. Às vezes, esse desapegar nos faz parecer insensíveis, porque nos fechamos em nossas conchas para nos recriarmos a partir da nova perspectiva. Às vezes, esse desapegar é apenas soltar o barquinho de papel no mar, barquinho esse que ainda que de papel corajosamente se arremessa sobre as ondas sem medo de ir, sem saber onde vai chegar, mas apenas indo, confiando e se permitindo ser no aqui e no agora seu próprio herói.
Desapegar das saudades que se sente no que não existe mais, das fotos que trazem lembranças de bons momentos, mas que se foram também.
Eu desapego, tu desapegas, ele(a) desapega, nós desapegamos, vós desapegais, eles desapegam. Nessa constante poesia do desapegar, a gente se esvazia para se encher novamente, a gente se contrai para se expandir depois, a gente se aquieta para se mover adiante, a gente morre no ontem para viver o agora.
Nunca imaginei o quanto libertador seria esse desapegar e ainda nem tenho consciência plena de onde isso vai dar. Estou aprendendo apenas a desapegar. O resultado?!?!?! Meu barquinho vai me mostrando, sem pressa, sem cobranças, apenas sendo.
Eu ando desapegando de muito de mim mesma, para transbordar em mim mesma.
E você, consegue desapegar do que não faz mais sentido na sua vida?
Com amor e desapego,
Simone Higino